Muitos idosos enfrentam uma situação preocupante: ao completarem 60 ou 65 anos, percebem um aumento significativo nas mensalidades do plano de saúde. Mas o que nem todo mundo sabe é que esse tipo de reajuste pode ser ilegal.
De acordo com o Status de Idoso (Lei nº 10.741/2003)é proibido cobrar valores diferenciados dos idosos de acordo com a idade. Isso significa que os planos de saúde não podem aplicar reajustes apenas porque você completou 60 anos.
Estas normas são importantes para evitar que os idosos, uma população já vulnerável financeiramente, enfrentem aumentos injustificáveis nas suas despesas de saúde.
Como posso saber se o reajuste do meu plano de saúde pode ser considerado abusivo?
Saber identificar um reajuste abusivo no seu plano de saúde é fundamental para evitar cobranças indevidas. Veja o passo a passo abaixo:
- Confira o contrato: Analise as cláusulas de reajuste. O contrato deverá especificar os percentuais de aumento por faixa etária. Termos vagos ou genéricos podem indicar problemas futuros.
- Compare os índices aplicados: Consulte as taxas de reajuste autorizadas pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). Se o aumento percentual for maior que o permitido, pode ser abusivo.
- Simule o reajuste: Suponha que seu plano custe R$ 500 e o reajuste por faixa etária seja de 20%. O novo valor deverá ser de R$ 600 (R$ 500 + R$ 100). Se o valor cobrado for maior, isso pode indicar abuso.
- Procure informações claras e objetivas: Contratos com linguagem vaga podem dificultar a compreensão dos ajustes. Exija explicações detalhadas e, se necessário, peça cópia do contrato atualizado.
- O que fazer em caso de cobrança abusiva: Caso perceba que o reajuste é abusivo, reúna todos os documentos relativos ao contrato e ao reajuste aplicado. Procure orientação de um advogado especializado em direito do consumidor. Ele ou ela pode ajudá-lo a negociar com a operadora ou até mesmo tomar medidas legais para contestar a cobrança.
- Consulte um especialista: Caso tenha dúvidas sobre o contrato ou reajustes, procure um advogado especializado. Ele poderá avaliar detalhadamente o caso e orientar sobre seus direitos.
Como identificar e se proteger de um ajuste abusivo no seu plano de saúde
Em entrevista ao jornalista Ariel França, o advogado Dra. Vanessa Vaz Galvãoda Vaz Galvão Advocacia, destacou que 90% dos casos atendidos em seu escritório são relacionados a ajustes por faixa etária.
“Porque é isso: faz 60 anos, o plano se reajusta absurdamente. Claro, pode ser reajustado conforme tabela da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Agora, o que não podem ser esses ajustes abusivos por causa da faixa etária. Isso é muito específico no Estatuto do Idoso”, afirmou.
Ela também alertou sobre as omissões contratuais: “Elas vêm com aquele contrato enorme, chegam para o cliente assinar, e são ajustes disfarçados que [os planos de saúde] Eles nunca poderão provar isso. E aí, na realidade, a gente vê que os ajustes são por faixa etária.”
Também em entrevista ao jornalista Ariel França, Subsecretário de Defesa do Consumidor do Estado do Rio de Janeiro, Alessandro Carracenadestacou a importância de verificar o informações emitidas pela ANS.
“A ANS apresenta periodicamente a tabela de reajuste dos planos de saúde. Por exemplo, entre maio de 2024 e abril de 2025, a ANS limitou os reajustes dos planos de saúde individuais a 6,91%. Infelizmente, é uma prática recorrente os operadores ignorarem estas disposições legais e continuarem a aplicar aumentos com base na idade, mesmo depois dos 59 anos”, lamentou.
Carracena enfatizou que muitos consumidores acabam pagando por falta de conhecimento. “Eles se sentem obrigados a pagar porque, afinal, se deixarem de pagar, não receberão mais o auxílio, que é essencial para essa faixa etária”.
Entenda o que fazer em caso de reajuste abusivo no plano de saúde
Caso você identifique um ajuste abusivo, o primeiro passo é procurar ajuda.
“Procure o PROCON da sua cidade ou órgãos de defesa e proteção ao consumidor. Relate o aumento que você vem enfrentando no seu plano de saúde para que esses órgãos investiguem”, recomendou Carracena.
Ele também destacou a importância dos relatórios: “Para nós, os relatórios são muito importantes. Os consumidores precisam denunciar práticas abusivas, como aumentos fora dos padrões estabelecidos pela ANS.”
A Dra. Vanessa também orientou sobre os passos que os consumidores devem seguir:
“Principalmente, a análise contratual: pegar o contrato, analisar, ler tudo, consultar a ANS para identificar todas as injustiças do contrato e depois agir.”
Ela reforçou que é possível buscar indenização em casos de cobranças indevidas. “Há [casos] julgado, e tive muitos casos em que ganhei, em que o plano de saúde teve que reembolsar [o cliente].“
Como os órgãos reguladores podem prevenir reajustes abusivos nos planos de saúde?
Para evitar abusos, a Dra. Vanessa destacou a necessidade de maior supervisão:
“Analisar contratos e reajustes das operadoras. Outra coisa: ampliar campanhas com mais informações e multas. Você já viu que os contratos possuem cláusulas abusivas? Ótimos planos de saúde. Acho que é a única maneira”, disse ele.
Carracena acrescentou mencionando a atuação integrada dos órgãos.
“Nos órgãos de fiscalização e defesa do consumidor, principalmente aqui no estado do Rio de Janeiro, realizamos fiscalizações de rotina nessas operadoras de planos de saúde. Mas, para nós, é muito importante nos alimentarmos da informação que vem do consumidor”, afirmou.
Ele citou um exemplo recente no estado do Rio de Janeiro: “Houve uma incidência muito grande de descredenciamento de algumas clínicas que atendem pessoas em situação de vulnerabilidade, principalmente crianças com TDAH e pessoas no espectro do autismo. Diante disso, foi criada uma força-tarefa, reunindo Ministério Público, OAB e Procon, o que resultou em um retrocesso das operadoras em relação a essas práticas ilegais”.
Carracena concluiu destacando a dificuldade que muitos idosos têm em identificar abusos.
“É muito difícil para os idosos fazerem esse tipo de cálculo aritmético de percentuais. Então, o que orientamos é que entrem em contato com os órgãos de proteção e defesa do consumidor para obter os esclarecimentos necessários e garantir seus direitos”, recomendou o subsecretário.
Quanto custa um plano de saúde para idosos e as influências nos valores
Os preços variam de acordo com fatores como região, operadora e tipo de cobertura contratada. Embora existam planos acessíveis, as mensalidades podem ser altas, principalmente para planos com maior cobertura e sem coparticipação.
Por exemplo, planos com atendimento domiciliar geralmente têm preços mais elevados, enquanto aqueles que oferecem apenas consultas e exames básicos tendem a ser mais acessíveis.
Essa variação reforça a necessidade de o consumidor avaliar cuidadosamente o contrato antes de assinar e acompanhar de perto eventuais reajustes.
Como denunciar um aumento abusivo do seguro saúde?
Os idosos que enfrentam dificuldades com adaptações abusivas podem procurar apoio em:
- Defensores Públicos: Eles oferecem assistência jurídica gratuita para pessoas de baixa renda. Caso necessite de suporte jurídico adicional, esses profissionais poderão auxiliar na formalização de uma reclamação ou ação judicial.
- PROCONs estaduais e municipais: Eles mediam conflitos e monitoram práticas abusivas. Informar o aumento recebido e apresentar os documentos contratuais e os reajustes aplicados.
- Ministério Público: Pode atuar na defesa coletiva dos direitos dos idosos.
A entrevista completa está disponível em Canal do site FDR no YouTubeonde também há conteúdos diversos sobre benefícios sociais e proteção ao consumidor.
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